Contardo Calligaris

⁠Mas uma coisa sei: qualquer evento nos marca e nos transforma só na repetição ou, melhor dito, num segundo momento, em que ele é evocado, retomado, revivido.

Não confio nos sentimentos - nem nos meus, nem nos dos outros.

Enquanto as ruas pegam fogo, é difícil escrever sobre o amor.

Quanto mais prezamos o indivíduo, tanto mais sonhamos com o amor e o ideal comunitário.

Os sentimentos funcionam como picadas de mosquito, que coçamos e recoçamos até que se tornem feridas infectadas e, às vezes, septicemias generalizadas (quem sabe fatais).

Em matéria de sociedade, sorte nossa: de vez em quando, podemos nos acomodar, mas nunca somos satisfeitos com a sociedade que conseguimos construir. Melhor assim.

Desconfio dos que propõem doutrinas de valor universal a partir dos arranjos singulares que eles ou elas encontraram para conviver com os percalços de suas vidas.

A modernidade é a era em que nossa existência social depende do olhar dos outros: somos quem conseguimos fazer que os outros acreditem que somos.

"Poder sem cultura é vulgar porque ele só se exibe."

Justamente, se a mulher interroga o espelho frequentemente, é porque sempre se pergunta se é mesmo bem-vinda ao mundo.