Mateo Alemán

Nós, os pobres, somos como o algarismo zero, que por si só nada vale e faz valer a cifra que a ele se junta - tanto mais quanto mais zeros lhe forem acrescentados.

Para o amor e a morte, não há coisa forte.

Não há vasilha que meça os gostos nem balança que os iguale; cada qual tem o seu, e, pensando que é o melhor, é o mais enganado.

Quem não tem necessidades próprias dificilmente se lembra das alheias.

Quem quando pode não quer, merece que quando queira não possa e perca pelo malquerer o bem poder.

Não se conhece o bem enquanto não se o perde.

Deve-se dar a fortuna para não adquirir um inimigo; muito importa não o ter, e quem o tiver trate-o de maneira tal como se em breve tivesse de ser amigo dele.

Como ao bem ocupado não há virtude que lhe falte, ao ocioso não há vício que não o acompanhe.

Devem-se buscar os amigos como os bons livros, pois a felicidade não está em que sejam muitos, nem mui curiosos, antes em que sejam poucos, bons e bem conhecidos.

Para os aduladores não há rico tolo nem pobre discreto, porque têm óculos de vista larga com que se representam as coisas.