Eugénio de Andrade

É urgente inventar a alegria, multiplicar os beijos, as searas, é rgente descobrir rosas e rios e manhãs claras.

Creio que foi o sorriso, o sorriso foi quem abriu a porta. Era um sorriso com muita luz lá dentro, apetecia entrar nele, tirar a roupa, ficar nu dentro daquele sorriso.

Hoje roubei todas as rosas dos jardins e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.

Foi para ti que criei as rosas. Foi para ti que lhes dei perfume. Para ti rasguei ribeiros e dei ás romãs a cor do lume.

Levar-te à boca, beber a água mais funda do teu ser - se a luz é tanta, como se pode morrer?

Procura a maravilha. Onde um beijo sabe a barcos e bruma. No brilho redondo e jovem dos joelhos. Na noite inclinada de melancolia. Procura. Procura a maravilha.

Voa coração, ou então...Arde!

Param as fontes a beber-te a face.

Devias estar aqui rente aos meus lábios para dividir contigo esta amargura dos meus dias partidos um a um.

A boca, onde o fogo de um verão muito antigo cintila. O que pode uma boca esperar senão outra boca?