Eu sou incapaz do esquecimento. Lembro de tudo. Isso não é exagero, na verdade, eu sou incapaz de exagerar.
Eu acho que é tudo uma questão de amor: quanto mais você ama uma recordação, mais forte e estranha ela se torna.
O tempo devora as memórias, as distorce. Às vezes, lembramos apenas das boas, outras vezes apenas das más.
Os diálogos, as emoções e todos os momentos que importam vão ficar guardados numa gavetinha muito especial da memória.
Tentei esquecer aquele beijo e o passeio de carruagem e o clube de esgrima, mas a senhorita parece ter se instalado na minha memória.
Sou hoje um caçador de achadouros da infância. Vou meio dementado e enxada às costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos.
Mantemos um registro um do outro. Só posso imaginar que ele mantenha. Parece que ele se lembra de todas as minhas transgressões.